A cultura de um povo é toda a sua memória.


terça-feira, 25 de maio de 2010

1.º SIRUM – Seminário Internacional de Reabilitação Urbana de Mindelo

Excertos:
«Um dos traços característicos do urbanismo do Mindelo, com justificações históricas já referidas anteriormente, reside no carácter polarizador das suas praças e largos, em torno das quais que se dispõem algumas das principais actividades comerciais, serviços, equipamentos. Será esta eventualmente a razão ou, pelo menos, uma das razões que justifica que não encontremos uma organização funcional da área central do Mindelo dependente de um qualquer eixo funcional dominante (…).». (Manual do 1.º SIRUM, 2006, p.42).
https://woc.uc.pt/darq/getFile.do?tipo=1&id=168

José Pessôa, recentemente em Cabo Verde, por ocasião do 1.º SIRUM – Seminário de Reabilitação Urbana do Mindelo:
«Este centro histórico (do Mindelo) não é, no entanto, facilmente reconhecido como tal. (…) A origem desta confusão está numa prática que tem sempre privilegiado a pura e simples transferência de conceitos e experiências consolidados em contextos muito diferentes daqueles onde pretende-se actuar. (…) Definir, portanto, a idéia de centro histórico tendo como objeto de estudos cidades como Mindelo, em Cabo Verde, ou Laguna e Santana do Parnaíba, no Brasil, entre tantas outras cidades disseminadas pelos portugueses nas duas margens do Atlântico, esbarra na diversidade que estas apresentam em relação aos centros históricos europeus. São cidades que nascem à revelia do seu hinterland e têm de raiz a perspectiva contemporânea de um crescimento ilimitado que resulta numa pouco clara definição dos seus limites. Muito mais que o conjunto de monumentos arquitetônicos excepcionais, elas são um único monumento formado por um conjunto de arquiteturas nada excepcionais. Mas serão estas arquiteturas, elementos fundamentais para a construção da identidade do lugar.» (José Pessôa, «A identificação de um centro histórico», ecdj, 10, Mar.2007, pp. 50 – 51).

Paulo Ormindo Azevedo*, recentemente em Cabo Verde, por ocasião do 1.º SIRUM – Seminário de Reabilitação Urbana do Mindelo:
«Não apenas a língua, mas toda a cultura, constitui a expressão da identidade de um povo. Com as lutas pela independência, o dialecto nacional, o crioulo, foi revitalizado como elemento de afirmação nacional e, portanto, de resistência à colonização. O mesmo processo deve abranger as outras manifestações culturais. A preservação dos valores culturais do passado não pretende cultuar uma ordem social ultrapassada, senão registar a sua superação.» (Paulo Ormindo de Azevedo, «Cabo Verde – A preservação da sua memória», ecdj, 10, 2007, p. 16 - Introdução).

Paulo Ormindo de Azevedo retoma Barcelos e Valdez para nos transmitir um desses paradoxos da nossa história que ameaçam repetir-se:
«A Ribeira Grande, actual Cidade Velha, com «edifícios quase destruídos e os que restavam cobertos de palha» (Barcelos, Parte V:158-159). Os objectos de prata de sua Sé Catedral foram, nessa época, fundidos e transformados em moeda (Barcelos, Parte V:158-159). Os grandes edifícios desabitados eram demolidos e as suas pedras enviadas por barco para a Praia (Valdez, 1864:113-4). Nem sequer a Sé foi poupada. Em 1875, o Secretário-geral do Governo solicitava ao bispo autorização para a demolir e para aproveitar o seu material (Brásio, 1960:29).» (Paulo Ormindo de Azevedo, «Cabo Verde – A preservação da sua memória», ecdj, 10, 2007, p. 16 - Da destruição à valorização).

De há longa data, recomendava Paulo Ormindo de Azevedo, referindo-se em particular ao Plateau da Praia, aliás, com um percurso diverso da Praça Nova e envolvente:

«A diminuição da população fixa do sector central pode conduzir a uma perda de vitalidade da zona, especialmente à noite, prejudicando a segurança dos seus utentes, como acontece nas grandes metrópoles. Este fenómenos deves estar associado à expansão do sector terciário e à mudança dos hábitos das classes média e alta que, com o uso do automóvel, preferem viver em lugares mais isolados. É necessário corrigir esta tendência através de uma legislação adequada de uso do solo e campanha de esclarecimento à população. Nos países desenvolvidos, nota-se já um movimento espontâneo de regresso aos centros das cidades.» (Paulo Ormindo de Azevedo, «Cabo Verde – A preservação da sua memória», ecdj, 10, 2007, p. 36 - Recomendações - A revitalização dos centros históricos).

(*) Paulo Ormindo de Azevedo é arquitecto brasileiro natural da Bahia, especializado e doutorado em restauração de monumentos e sítios, respectivamente no ICCROM/UNESCO e Universidade de Roma, La Sapienza, Itália), autor de «Cabo Verde – a preservação da sua memória», relatório da missão da UNESCO sobre o Património Cultural de Cabo Verde, 80 – 81, Paris, 1981, recuperado pelo 1.º SIRUM, 2006 e pela revista ecdj (Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra), 10 (número dedicado ao 1.º SIRUM), 2007.

Sem comentários:

Enviar um comentário